TVP e o feeling do terapeuta II

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“Educar a mente, disciplinando a vontade, constitui o passo inicial para extirpar as causas das aflições, infundindo responsabilidades atuais, geradoras, por sua vez, de novos resultados saudáveis para propiciar o futuro bem-estar a que se está fadado.”
Joanna de Angelis (psicografia de Divaldo Pereira Franco)

Compreender os mecanismos do pensamento e da emoção promove o conhecimento de si mesmo. No consultório, existem casos de dores e pânico em que não se encontram causas clínicas. Antes de iniciar um tratamento direcionado às vidas passadas, o terapeuta deve sondar sobre eventuais acidentes, traumas e estados de inconsciência.

Há casos em que o cliente passou por momentos traumáticos e sua mente registrou, em estado alterado, pensamentos, verbalizações, emoções distorcidas das pessoas que estavam ao seu redor… Devido a alteração da consciência, essas mensagens agem como um comando hipnótico. As dores podem ser o resultado de um acúmulo de vibrações geradas por uma pancada, por exemplo. Então, a pessoa sente dores no local e nas regiões abaladas. Chamamos isso de “resíduos psicossomáticos”.

Vou contar o caso de Maria. Queixava-se de uma raiva que sentia da sua mãe, pois acreditava que ela superprotegia o irmão, e tinha certeza de que não sentia ciúme deles… Tentava de todas as maneiras relacionar-se bem com a mãe, mas sempre sentia um ar de cobrança dela. O irmão a procurava somente quando precisava de algo e ela sempre o atendia prontamente. Quanto mais tentava negar e justificar seus sentimentos, mais fortes eles se tornavam.

Já havia feito outras terapias, sem obter sucesso. Queria a qualquer custo fazer regressão à vida passada para encontrar as causas deste sentimento.

Sentia dores de cabeça, no pescoço, na região do rim direito, no joelho direito, e uma sensação de nó na garganta. Sondei algum momento traumático, acidente, estado de inconsciência, como pancadas e anestesia geral… Revelou que aos 12 anos sofreu um acidente de bicicleta, mas o que sabia era somente o que haviam lhe contado, pois, na época, ficou desacordada por muito tempo. Lembrava-se de ter quebrado o braço, cortado os joelhos, a sobrancelha e ficado desfigurada, já que também ralou o rosto em um muro chapiscado. De acordo com o médico, teria que fazer várias plásticas para conseguir reconstituir o seu rosto.

Iniciada uma pesquisa sobre o evento, ela lembrou que sua mãe a deixou na casa da avó e, antes de ir embora, ordenou que não andasse de bicicleta na rua porque era muito perigoso. Ela tinha muito medo de que algo de ruim acontecesse aos filhos.

Sua mãe mal virou a esquina e Maria se juntou a uma amiguinha para passear de bicicleta na rua. Ela assumiu o controle da bicicleta, enquanto amiguinha ia na garupa. Lembra-se de estar descendo uma ladeira quando percebeu que os freios não funcionavam. A partir daí, não se lembra de mais nada.

Assim, o trabalho de sondagem física foi iniciado e, posteriormente, o de terapia regressiva (não confundir com a TVP). Muitos conceitos do período de inconsciência foram resgatados.

Pela localização das dores e de seus reflexos, chegou-se até o momento do trauma.
Ela não conseguia ver, sentia uma grande angústia, sua respiração estava ofegante. Realizada a dissociação, foi solicitado que ela subisse e ficasse fora da cena, vendo de cima, mas isso ainda era muito difícil. Ela foi se afastando cada vez mais, até que conseguiu ver uma enorme nuvem escura.

Perguntando o que era aquela nuvem e de quem era aquela nuvem, imediatamente ela respondeu: “É medo, ouço minha mãe gritar.  É pavor, é a nuvem é dela, é o medo dela”.

Então, perguntei se havia necessidade dessa nuvem permanecer e o que ela gostaria de fazer com a nuvem. Maria disse que desejaria eliminá-la.

Aos poucos, a nuvem foi clareando. Maria sabia que ela não lhe pertencia. A imagem do acidente foi ficando real, os detalhes puderam ser vistos, os comentários das pessoas que a socorreram foram ouvidos, pôde ver o resgate e o trajeto até o hospital (de maneira dissociada, fora da cena). Ao chegar no hospital, teve a sensação de estar dentro da ambulância. Quando a porta abriu, viu o enfermeiro e a mãe. Lembrou-se dos olhos de pavor da mãe e de sua fala: “O que você fez comigo?” O choro preso há 34 anos veio à tona compulsivamente, até que esgotou toda aquela emoção. Foi uma catarse (alívio-compreensão).

Para o fechamento da sessão, Maria foi fazendo conexões, fato que promove a libertação, a higienização e a cicatrização da ferida (trauma): com medo de perder o controle de tudo, mesmo inconsciente, ela não soltou o guidão da bicicleta ao bater no veículo e saltar por cima dele, até se chocar com o muro. A sensação que teve foi de não haver tempo a perder ao escutar os policiais que a socorreram gritarem: “corre, corre, não perca tempo!”

Maria sempre teve medo de perder a consciência e nunca experimentou nada que lhe alterasse a percepção.  A culpa que sentiu em desobedecer a mãe e por tê-la feito sofrer, fez com que ela voltasse aos seis anos: quando estava no quintal de sua casa e sentou em um cobertor que estava estendido no varal para se balançar e o muro, em que o arame do varal estava preso, caiu na cabeça de seu irmão. Na cena, reviu a mãe com ele no colo, ensanguentado, e a afirmação: “viu o que você fez com seu irmão?”

Percebeu que sempre estivera preocupada com o irmão e seu bem-estar; sentia-se deprimida quando o irmão não estava bem, como se precisasse, a qualquer custo, fazer algo por ele. Compreendeu que ele também acreditava que ela era culpada. As dificuldades de vida da mãe tornaram-na muito medrosa, o que implicou impor seu medo aos filhos.
Iniciou-se a reconciliação da criança com ela, já adulta, com a mãe e com o irmão. Libertando-se, acolheu finalmente a criança que passou 34 anos se sentindo desesperadamente culpada.
Depois do amadurecimento das emoções acessadas, após algumas sessões (semanas) libertou-se, também, das dores, da angústia que sentia sem motivo aparente, da preocupação excessiva com o irmão e da raiva da mãe. Manifestou vontade de estar junto dela.

É provável que haja vínculos com um passado remoto. Entretanto, o entendimento das relações desta existência é muito significativo até mesmo para facilitar a experiência, se houver ainda a necessidade, de uma regressão às vidas passadas. As mensagens acessadas em estado alterado de consciência podem se manifestar na experiência de regressão às vidas passadas como uma “outra consciência”, uma presença. Aprender a se posicionar diante das adversidades do presente faz ressonância com o passado. Cada passo dado em direção ao amadurecimento é luz para se desenvolver e se libertar do passado que compromete a qualidade de vida no agora.


One Comment

  1. antônio carlos cropalato di tullio
    Posted 26 de abril de 2015 at 14:00 | Permalink

    Paz e Alegria Marta,permita-me chegar com uma questão.Sou de Salvador,conversando ontem com meu orientador(Dr.Fernando Feitosa Luz),com 90 anos,descobri algo que não sabia.participou de um Congresso Internacional no Rio e trocou experiências com
    Hans Tem Dan-terapeuta de regressão, é ainda encarnado?
    Obrigado,sou professor de Yoga,filósofo e terap. Transpes. Paz e Alegria a ti.

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